
O olhar de Agnieszka Holland sobre 'Kafka' entra em competição em San Sebastián

"Franz", o retrato do escritor Franz Kafka da veterana diretora franco-polonesa Agnieszka Holland, estreou nesta segunda-feira (22) em San Sebastián, onde compete pela Concha de Ouro.
Aos 76 anos, a diretora de "Filhos da Guerra" - que lhe valeu uma indicação ao Oscar em 1992 - mergulha na vida do escritor de "A metamorfose" e "O processo", desde seu nascimento em Praga em 1883 até sua morte por tuberculose aos 40 anos em Kierling, Áustria, em 1924.
Coincidentemente, a filha de Holland, Kasia Adamik, dirige o filme que encerrará o festival, "Winter of the Crow", fora de competição.
Kafka, interpretado pelo ator alemão Idan Weiss, aparece no filme como alguém esquivo e distraído, incapaz às vezes de manter uma conversa normal, a menos que seja literária ou filosófica, e dominado pela figura tirânica e grosseira do pai, com quem ajustaria contas em sua "Carta ao Pai", publicada postumamente.
O filme alterna passagens da vida de Kafka com o culto ao escritor na atual Praga, o que permite introduzir reflexões contemporâneas sobre o autor.
"Quando decidimos com o roteirista adotar esse tipo de conceito para criar uma estrutura biográfica e uma narrativa não linear e pouco convencional, sabíamos que estávamos entrando em um terreno muito instável", explicou Holland em entrevista coletiva em San Sebastián.
O outro filme do dia em competição pela Concha de Ouro foi o espanhol "Los domingos", terceiro da diretora basca Alauda Ruiz de Azúa, de 47 anos, vencedora de um Prêmio Goya de Melhor Direção Estreante por "Cinco lobitos".
Como em todos os projetos de Ruiz de Azúa, "Los domingos" explora as relações e conflitos de uma família, neste caso a de Ainara, interpretada pela estreante Blanca Soroa, uma jovem de 17 anos que surpreende todos os seus próximos ao anunciar que quer entrar em um convento de clausura.
A mais impactada é sua tia, representada por Patricia López Arnaiz, que tenta convencê-la a não fazê-lo, enquanto a superiora do convento (Nagore Aranburu) terá a palavra final sobre se Ainara poderá ser aceita.
Ruiz de Azúa explicou em entrevista coletiva que a história surgiu de uma experiência que ela viveu na juventude, quando uma amiga decidiu se tornar freira, uma decisão "muito radical e que (ela) não entendia".
Que uma adolescente "se propusesse a uma decisão assim (...) me permitiria falar de muitas fragilidades da família e de muitas convicções que acreditamos ser muito firmes e que, de repente, podem ser colocadas em questão", contou a cineasta.
M.Dodaro--INP