
Colômbia anuncia operação para conter onda de violência

O ministro da Defesa da Colômbia anunciou nesta sexta-feira (22) uma operação de inteligência no sudoeste do país para enfrentar os guerrilheiros responsáveis por um ataque com carro-bomba, em meio à pior crise de violência em uma década.
O ministro Pedro Sánchez percorreu a região próxima a uma escola de aviação militar onde, na véspera, ao menos seis civis morreram e mais de 60 ficaram feridos após a explosão de um caminhão-bomba em Cali, terceira cidade mais populosa do país.
No local, Sánchez anunciou a Operação Sultana, da qual deu poucos detalhes, afirmando que o objetivo é proteger a região "do terrorismo e do crime".
Na quinta-feira, o ataque mergulhou Cali no caos. José Burbano, que caminhava perto da base militar, relatou à AFP: "De um momento para outro, explodiu algo muito forte e todos foram ao chão".
Segundo o ministro, a Operação Sultana reforçará uma unidade de elite no sudoeste colombiano encarregada de localizar e capturar alvos de alto valor.
"O bloco de busca será reforçado ainda mais com capacidades tecnológicas e de inteligência", disse, em referência a uma unidade de 700 policiais de elite, inspirada nos esquadrões que perseguiram narcotraficantes famosos como Pablo Escobar nos anos 1990.
- "Desespero" -
Algumas horas antes do ataque em Cali, guerrilheiros em Antioquia (noroeste) mataram 13 policiais ao derrubar um helicóptero com um ataque de drone e fuzis. Os agentes estavam em uma missão de erradicação de plantações de folha de coca.
As autoridades atribuem os ataques a duas dissidências das Farc, que estão em confronto entre si e rejeitaram o acordo de paz assinado em 2016 com a maior parte dessa guerrilha.
Sánchez afirmou que, em cinco áreas de atuação desses grupos, a extorsão, os assassinatos e o recrutamento de crianças diminuíram. Isso, segundo ele, "os levou a um desespero para atacar com a arma mais criminosa e insana que pode existir, que é o terrorismo".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente nesta sexta-feira em uma cúpula em Bogotá, expressou seu pesar: "Nossos corações estão com as vítimas dos ataques", disse.
- 'Erro de inteligência' -
"Estamos enfrentando uma máfia internacional com grupos armados aqui", afirmou o presidente Gustavo Petro, após se reunir com a cúpula militar em Cali por volta da meia-noite de ontem.
O primeiro líder de esquerda da Colômbia enfrenta cada vez mais críticas devido ao aumento da violência e à sua estratégia de priorizar o diálogo com os grupos armados, em vez de declarar uma guerra contra eles.
O prefeito de Cali reconheceu na Rádio Blu "um erro de inteligência que precisa ser corrigido". No local do ataque, havia outro caminhão carregado de explosivos, que não foi detonado. Caso contrário, "a situação teria sido infinitamente pior", ressaltou Alejandro Eder.
O Ministério Público informou que houve duas prisões relacionadas com o ataque. Um dos detidos foi "capturado pela comunidade, no local dos fatos", informou Petro. Conhecido como Sebastián, ele é apontado por autoridades como membro do maior grupo dissidente das extintas Farc, o EMC, comandado por Iván Mordisco.
- Eleições -
O acordo de paz assinado com as Farc em 2016 trouxe tranquilidade ao país, após décadas de conflito armado, mas também deixou um vazio de poder nos territórios, aproveitado por grupos guerrilheiros dissidentes, paramilitares e cartéis que lucram com o narcotráfico, a extorsão e a mineração ilegal.
As dissidências foram acusadas de dezenas de ataques recentes, incluindo o assassinato do senador de direita e pré-candidato à Presidência Miguel Uribe Turbay, cujo pai, Miguel Uribe Londoño, anunciou hoje que será candidato da direita nas eleições, que devem ser marcadas pelo tema da segurança.
"As guerrilhas buscam colocar o governo nacional contra as cordas e gerar um ambiente de preocupação que tem muito a ver com as eleições de 2026", indicou Laura Bonilla, vice-diretora da fundação Paz e Reconciliação.
Em maio de 2026, a Colômbia vai eleger o substituto de Petro, impedido por lei de se candidatar novamente. Durante o seu mandato, a produção de cocaína na Colômbia atingiu níveis recorde, segundo a ONU.
D.Ricci--INP